Estupro é toda a forma de violência sexual para qualquer fim libidinoso, incluindo a conjunção carnal. Tanto o homem quanto a mulher podem ser vítimas quando forçados ou coagidos, com emprego de violência física ou grave ameaça, a praticar coito (introdução do pênis na vagina) ou qualquer outro ato que propicie prazer sexual como por exemplo sexo anal ou oral. É considerado um dos crimes mais violentos e hediondos.
Os organismos internacionais e nacionais de saúde estabeleceram, com base em publicações científicas, que o atendimento inicial deve acontecer idealmente nas primeiras 72 (setenta e duas) horas após o fato e quanto mais cedo melhor.
Por que essa recomendação?
PREVENÇAO! É ISSO QUE SE PRETENDE NO ATENDIMENTO IMEDIATO
Em Curitiba, o Complexo do Hospital de Clínicas presta esse atendimento desde o ano de 1997, portanto, há 26 anos. A maternidade mantém profissionais de saúde devidamente treinados para esse tipo de assistência médica, de enfermagem, social e psicológica, de plantão 24 horas por dia, 7 dias por semana.
NÃO TOME BANHO NEM SE DESFAÇA DA ROUPA ÍNTIMA APÓS A VIOLÊNCIA. É IMPORTANTE QUE SEJA FEITO UM EXAME MÉDICO E PERICIAL, PARA SE IDENTIFICAR O AGRESSOR
Todas as mulheres que precisarem do atendimento devem ir direto à maternidade. Não precisa marcar consulta. Logo ao chegar e contar brevemente o ocorrido, a vítima será, de imediato, levada a uma sala isolada, onde um profissional do serviço lhe dará todo o suporte.
Quando uma mulher sofre uma violência sexual, quer imediatamente se livrar das vestes que usava durante a agressão. Ela pensa logo em tomar banho, trocar de roupa e até jogar fora as peças íntimas.
Portanto, se a roupa for retirada, deve ser embalada em pacote ou caixa de papel ou papelão (NÃO USE PLÁSTICO!), e leve-a para o atendimento.
Entre as medidas preventivas estão:
2. Preenchimento de um documento chamado Ficha de Notificação Obrigatória. Os dados obtidos são importantes para a saúde pública municipal e estadual e são sigilosos, o nome e a identidade da mulher são preservados.
3. Coleta de vários exames de laboratório e para o IML. São para avaliar presença das infecções sexualmente transmissíveis e para identificação do agressor. Esses exames são: teste de gravidez (a mulher pode estar grávida, não devido à violência, mas de seu companheiro), e para identificar as infecções sexualmente transmissíveis, antigamente conhecidas como DSTs.
4. Uso de medicamentos preventivos contra infecções, e esses são entregues à mulher, que já inicia o uso durante o atendimento. Ela não precisa comprar remédios, a saúde pública os fornece, gratuitamente.
5. Anticoncepção de emergência: quanto mais cedo após a relação sexual forçada, a mulher tomar o anticoncepcional de emergência, melhor o resultado. Deve ser nas primeiras 72 horas. Esse medicamento também é fornecido durante o atendimento.
6. Consultas posteriores de seguimento: é muito importante que as mulheres vítimas continuem o tratamento com médicos e psicólogos pelo tempo que for necessário. Elas devem voltar nas datas marcadas até que recebam alta.
Gravidez decorrente de estupro e o direito ao aborto
As mulheres que engravidam devido ao estupro, geralmente não procuraram atendimento adequado logo após a violência. Aquelas que o fizeram de imediato e fazem uso do anticoncepcional de emergência dificilmente engravidam.
Por lei, as mulheres que engravidam, devido à violência sexual, têm direito ao aborto, gratuitamente, no serviço público. Ao relatar uma gravidez como resultado de abuso, os profissionais farão uma bateria de exames, inclusive ecografia obstétrica para confirmar a gestação e o seu tempo.
Se ela desejar a realização do aborto, deve descrever de próprio punho o que aconteceu e informar o desejo, assinar e datar. As jovens menores de idade precisam do acompanhamento do responsável. Aos profissionais de saúde compete informar a vítima sobre os seus direitos reprodutivos, inclusive a possibilidade de levar a gestação a termo, se for o seu desejo. Também é possível que a mulher faça a doação da criança logo após o nascimento.
Jamais tente práticas abortivas em casa, não compre remédios via internet, procure um hospital e receba todas as orientações sobre os seus direitos.
É preciso saber que o aborto mais seguro é aquele feito em hospital e nas primeiras 12 semanas de gestação.
Não é recomendável comprar remédios pela internet, pois existem muitos medicamentos falsos sendo vendidos, sem que se saiba qual a sua composição ou origem.
O Dr. Rosires Andrade é autor do livro Violência Sexual Contra Mulheres - Aspectos Médicos, Psicológicos, Sociais e Legais de Atendimento, disponível gratuitamente em: https://www.rosiresandrade.com.br.
O professor Rosires Andrade é um dos idealizadores do protocolo de atendimento às vítimas de violência sexual, na maternidade do Complexo do Hospital de Clínicas de Curitiba.
Esse importante artigo foi escrito para a Edição 2 da revista literária Ícone Magazine, em 10/2023.
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